Entre a colina que se resguarda a
Cunha e o monte do Pereiro, espraia-se
um lindo e aprazível vale.
Lembra, embora em miniatura, o reputado
Vale de Vilariça, pela diversidade
e mimo das sua produções
horto-agrícolas, em extensão
relativamente diminuta. O vale de
que falamos, é cortado por
um pequeno ribeiro, que o fertiliza
através da irrigação
permanente e inundação
eventual. O ribeiro teve outrora moinhos
a funcionar e o vale proporciona fortuna
de pão, legumes e cereais.
A povoação de Tabosa
assenta na base do monte do Pereiro,
desenhando-se-lhe por cima a linha
turtuosa e sombria do dito monte.
Cá em baixo, o povoado recorta-se,
grave e austero, entre maciços
de verdura emoldurados por caminhos
agrícolas e pela estrada municipal
que liga para a estrada nacional e
para as Quintãs.
Cresceu o aglomerado sobre a égide
de Sernancelhe e a sua Comenda da
Ordem de Malta e desde o início
que foi o alfoz daquela vila e concelho,
tendo até 1834 o Comendador
detido e padroado da igreja desta
freguesia.
A Igreja Paroquial, dedicada a Santo
António de Lisboa, está
alcantilada numa pequena encosta.
É pequena, mas proporcionada
e graciosa ou, no dizer de Alberto
Correia, “maneirinha como o povo”.
Tem a capela-mor com altar priveligiado,
de talha simples. O corpo da igreja
é de uma só e pequena
nave, com uma capela lateral bastante
espaçosa, A fachada principal
é encimada por campanário
de duas ventas e respectivos sinos.
A festa do padroeiro celebra-se ruidosa
e devotamente a 13 de Junho ou no
Domingo subsequente.
No alto do monte do Pereiro, a dominar
a Tabosa e a soberba panorâmica
que dali se divisa ao largo e ao longe,
firma-se a minúscula capela
de Stº Estêvão,
abandonada durante muitos anos e recentemente
relevantada e adornada, com imagem
fabricada por um dos artistas da terra.
O arranjo do largo envolvente e caminho
de acesso, fruto da vontade férrea
dos populares, ocasionou o lançamento
da festa que se tornou habitual em
15 de Agosto ou no Domingo imediato.
Quase confundida com a casaria, toda
de gente ligada à terra, perfila-se
discreta a capelinha de S. Sebastião,
imóvel de tradicional e afectuosa
devoção deste povo.
Eclesiasticamente, Tabosa é
uma paróquia ou freguesia religiosa
independente. Civilmente, está
anexada à Cunha. Mas antigamente
era considerada, civil e eclesiasticamente,
uma freguesia autónoma. Assim
lhe fazem referência Pinho Leal
e Joaquim de Azevedo. Não se
conhece decreto que a haja mandado
anexar à Cunha, mas de certeza
que a anexação não
terá resultado da singela vontade
popular. Chegou a chamar-se Tabosa
da Arnas, talvez pela maior proximidade
e facilidade de acesso.
Texto:
Da Varanda do Távora
Sernancelhe na marcha da torrente,
página 201
Abílio Louro de Carvalho
Edição Câmara
Municipal de Sernancelhe
Fotografias
: http://sernancelhe.planetaclix.pt
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